Pesquisa nacional indica alta aprovação aos sindicatos, mas dirigente do SINTPq diz que realidade local é oposta
Apesar de dados positivos em âmbito nacional, representação local aponta desafios de mobilização e sustentação financeira da entidade.
Por Israel Moreira

Foto: Agência Brasil
Uma nova pesquisa nacional revela que 68% dos trabalhadores brasileiros consideram os sindicatos importantes ou muito importantes para defender direitos e melhorar as condições laborais. O estudo “O Trabalho e o Brasil”, realizado pelo Vox Populi a pedido da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Fundação Perseu Abramo, com apoio do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e do Fórum das Centrais Sindicais, ouviu presencialmente 3.850 pessoas de diferentes ocupações, entre celetistas, autônomos, empreendedores, trabalhadores de aplicativos, servidores públicos, desempregados e aposentados.
Apesar do resultado expressivo, dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia de Campinas e Região afirmam que a percepção da base do SINTPq vai em sentido contrário ao observado no levantamento. Os dados nacionais mostram que mais de 70% dos trabalhadores defendem o direito de greve e que 52% estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a atuação sindical. Mesmo entre autônomos e empreendedores, historicamente mais distantes das entidades, 49% afirmam que gostariam de se filiar a um sindicato.
Para o diretor do SINTPq, Regis Carvalho, os números surpreendem e contrastam com a realidade vivida pela entidade. “Apesar de uma amostragem pequena, essa pesquisa traz resultados surpreendentes. No geral, tenho a percepção de que muitos trabalhadores marginalizam os sindicatos”, avalia. Ele destaca que, dentro da categoria representada pelo SINTPq, o comportamento costuma ser bem distinto dos resultados nacionais. “Em relação aos trabalhadores da base do SINTPq, minha experiência ao longo dos anos vai na contramão dessa pesquisa. Os números de participação nas assembleias e a disposição em sustentar financeiramente o sindicato, seja pela associação, seja pelo aceite à cota negocial, são preocupantes.”
Regis considera que a construção de um sindicato forte depende de esforço conjunto. “Acredito que o sindicato deva estar mais presente, mas também os trabalhadores têm de se aproximar do sindicato. Salvo engano, nossa taxa de sindicalização beira os 10% e a concordância dos não sócios em contribuir com a cota negocial não passa de 35% a 40% da base. Representação sindical é, para mim, uma via de mão dupla.”
Ele lembra ainda que o cenário se tornou mais difícil após a reforma trabalhista. “Desde a reforma trabalhista, que sufocou financeiramente os sindicatos, o SINTPq tem feito um esforço enorme para se manter vivo. Só a aproximação entre sindicato e trabalhadores terá êxito na construção de melhores condições de trabalho e renda.”
A pesquisa nacional, por outro lado, indica que a percepção positiva sobre as entidades se mantém ampla.
Dados da Pesquisa
Entre os entrevistados, 68% reconhecem contribuição direta dos sindicatos para a melhoria de salários e condições de trabalho. Outros 67,8% afirmam que essas organizações colaboram para elevar a qualidade de vida, enquanto 67,1% valorizam o papel de mediação com as empresas. Para 64,3%, os sindicatos cumprem papel essencial na defesa dos direitos básicos. A aprovação é maior entre jovens e moradores do Nordeste e do Sul.
Mesmo com essa maioria favorável, 52,4% dos trabalhadores afirmam não conhecer bem as ações concretas das entidades que os representam. Questionados sobre como os sindicatos poderiam se aproximar mais da base, os entrevistados apontam três prioridades: presença mais constante nos locais de trabalho, citada por 49,4%, comunicação mais clara e eficiente, mencionada por 37,5%, e oferta de cursos de qualificação, indicada por 29,6%.
As demandas consideradas prioritárias para a agenda sindical também foram mapeadas. A busca por melhores salários lidera com 63,8%. Em seguida aparecem geração de empregos de qualidade, com 36,6%, saúde e segurança no trabalho, com 26,6%, redução da jornada, com 21%, e combate à discriminação, com 18%. A discussão sobre o fim da jornada de seis dias trabalhados para cada um de descanso deve ganhar força no debate eleitoral de 2026.
A taxa de sindicalização medida pela pesquisa é de 11,4%, reflexo da fragmentação do mercado de trabalho e da multiplicidade de vínculos existentes hoje. Mesmo assim, 14,6% afirmam que certamente se filiariam a um sindicato e 35,9% consideram essa possibilidade. Entre autônomos e empreendedores, 49,6% defendem a criação de um sindicato próprio, embora a legislação atual limite a representação sindical a categorias formais.
Para a socióloga Adriana Marcolino, diretora técnica do Dieese, o cenário é complexo e exige novas estratégias. Ela lembra que cerca de 38% dos trabalhadores brasileiros atuam na informalidade ou como autônomos. “Autônomos e informais valorizam o papel dos sindicatos e gostariam de se sindicalizar, mas não encontram entidade que os represente. O desafio é ampliar a presença nos locais de trabalho e organizar quem vive do próprio trabalho, mas não está na CLT”, afirma. Segundo ela, a reorganização do mercado, marcada por terceirização, PJ, aplicativos e alta rotatividade, dificulta a representação. “A fragmentação reduziu a capacidade de organização. O movimento sindical ainda não formulou uma estratégia eficaz diante desse novo cenário.”
Outro dado relevante indica que 56% dos trabalhadores que hoje atuam como autônomos e já tiveram carteira assinada gostariam de retornar ao regime CLT, reforçando a busca por estabilidade e proteção social.
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