Notícias | Assédio internacional e desinvestimento público fazem Brasil perder cada vez mais engenheiros

Assédio internacional e desinvestimento público fazem Brasil perder cada vez mais engenheiros

Debandada de profissionais qualificados afeta o setor aeroespacial e também empresas da base de representação do SINTPq

06/12/2022

Há anos, o SINTPq denuncia o fato de o Brasil estar perdendo mão de obra qualificada no setor tecnológico devido ao desinvestimento dos últimos governos. Agora, esse problema chegou ao campo aeroespacial e será tratado nos tribunais. Isso porque associações brasileiras do setor aeroespacial entraram com ação contra a empresa norte-americana Boeing por esta realizar contratação predatória de engenheiros brasileiros.

Segundo reportagem do portal Sputnik Brasil, a partir de seu escritório no Brasil, a Boeing está oferecendo salários superiores aos de suas contrapartes brasileiras. Já foram contratados 200 engenheiros aeroespaciais sêniores de empresas nacionais do setor, em especial da Embraer.

Em entrevista para o Sputinik Brasil, o Dr. Oswaldo B. Loureda, fundador da Acrux Aerospace e professor de engenharia aeroespacial da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), avalia que o câmbio é uma das principais armas da Boeing neste momento.

"O interesse da Boeing é ter acesso a uma mão de obra altamente qualificada, numa condição de mercado que ela tem muito favorecida, que é fazer os pagamentos em dólar num momento em que o dólar está muito valorizado em relação ao real. Então, mesmo pagando salários abaixo do recebido pelos engenheiros da Boeing na sua sede, ela consegue atrair engenheiros brasileiros", afirma Loureda.

A ação movida por entidades como a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABINDE), com apoio da Embraer, reivindica que seja estabelecido um teto de contratações para a empresa norte-americana e uma multa de R$ 5 milhões pela contratação de cada profissional que extrapole o limite.

Os advogados responsáveis pela ação também alegam que essa mão de obra foi formada sobretudo por instituições públicas, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), UFMG, UFSM, entre outras, todas financiadas por recursos dos contribuintes brasileiros. Considerando esse fator, a ação solicita que a Boeing compense o total investido pela Embraer e pelo ITA em programas de qualificação de engenheiros do setor.

Amazul também sofre com perda de mão de obra

A empresa Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S/A (Amazul) é responsável pelo desenvolvimento tecnológico do submarino nuclear brasileiro. A estatal integra a base de representação do SINTPq e, apesar de não contar com uma concorrente multinacional como a Boeing assediando diretamente seus profissionais, vem perdendo mão de obra qualificada há anos. 

Atualmente, a Amazul conta com aproximadamente 1.500 funcionários, mas esse número já esteve na casa dos 1.800. Devido aos desinvestimentos do Governo Federal, a empresa amarga um histórico recente de defasagem salarial. Recomposições pela inflação têm sido obtidas apenas via greves e ações judiciais movidas pelo SINTPq. Tal cenário tem desmotivado engenheiros e técnicos, que cada vez mais abandonam a Amazul em busca de melhores oportunidades no exterior.

Na visão do presidente do SINTPq, José Paulo Porsani, a ausência de um projeto nacional de inovação e desenvolvimento é o principal motivador da debandada de profissionais. “A falta de uma política industrial para setores estratégicos como energia nuclear, petróleo e gás, TIC,entre outros, coloca o Brasil em um cenário pessimista para a sua independência tecnológica, coloca em risco sua soberania e desmotiva a formação de profissionais nestas áreas”, avalia Porsani.

José Paulo Porsani defende um novo ciclo investimentos em CT&I e na formação de engenheiros e pesquisadores