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Semana da Mulher IPT 2019: Construindo a Igualdade de Gênero

22/02/2019

Mulher, Ciência e Tecnologia

Ros Mari Zenha, Luciana Casciny Pacifico e Priscila Rodrigues Melo Leal Pesquisadoras do IPT

No mês em que se comemora do Dia Internacional da Mulher, é oportuno observar como se refletem as questões de gênero, no campo da ciência e da tecnologia.

A igualdade de gênero é um direito fundamental e um tema prioritário de atuação de diversos organismos internacionais e nacionais.

De acordo com Joan Scott nos estudos acadêmicos sobre a condição da mulher, a palavra gênero não reflete as diferenças físicas fixas e naturais entre homens e mulheres (sexo feminino e sexo masculino), mas sim designa as relações sociais entre os sexos, os papeis destinados aos homens e mulheres, que variam de acordo com as culturas, os grupos sociais e no tempo .

Em que o fato de sermos mulheres afeta nossa vida? Que possibilidades nos foram oferecidas e quais nos foram recusadas? Que destino podem esperar nossas irmãs mais jovens e em que sentido convém orientá-las? (Simone du Beauvoir, 1949).

No Brasil, a educação era impensável para as meninas até o início do século XIX, reservando-se a elas “as prendas domésticas”. A ruptura da barreira educacional se deu há apenas 200 anos quando Nísia Floresta abriu uma escola para meninas. Na segunda metade do século XIX, as mulheres eram jornalistas, escritoras, poetas, musicistas, ativistas políticas que buscavam superar a discriminação a que eram submetidas em casa e na vida pública.

Em 1940, o Censo do IBGE deixava claro que mulher em universidade era coisa rara, já que apenas 34% delas sabiam ler e escrever, enquanto entre os homens a taxa era de 42%.

Segundo informações do artigo de autoria de Rodrigo de Oliveira Andrade, na Revista Fapesp (ano 19, nº 271, 2018), Onde as cientistas não têm vez, as mulheres que iniciam um doutorado em áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, em inglês, ou “ciências duras ou exatas” em português) são 12% menos propensas a terminar suas pesquisas, em comparação com os homens.

No estudo Cracking the code: Girl´s and women´s education in science, technology, engineering and mathematics, verificou-se que 74% das mulheres se interessam por ciência, tecnologia, engenharia e matemática. No entanto, apenas 30% delas se tornam pesquisadoras nessas áreas. Para as que ingressaram no mercado de trabalho, os dados indicam que 27% sentem que não estão evoluindo em suas carreiras, enquanto 32% desistem em até um ano depois de concluída a graduação.

As áreas STEM representam, hoje, um dos setores da economia e do mercado de trabalho que mais cresce no mundo e as mulheres nelas estão sub-representadas.

As diferenças de gênero na educação, visíveis desde o ensino básico, tornam-se mais evidentes nos níveis mais altos de ensino. Relatório da UNESCO destaca que as meninas começam a perder o interesse pelas áreas STEM tão logo ingressam nas escolas.

Os autores destacam parte das causas do fenômeno: (1) influência, na família e na escola, que “formata” as meninas e lhes transmitem uma série de clichês e estereótipos que elas próprias interiorizam, minando sua capacidade de confiar nas próprias potencialidades; (2) desmotivação das meninas a partir do ensino médio, para as áreas de ciências exatas; (3) desconhecimento sobre o que é desenvolvido no campo da ciência e da tecnologia, em especial nas ciências duras ou exatas e (4) falta de modelos.

A tendência se acentua no ensino médio, de modo que, atualmente, na educação superior, as mulheres representam apenas 35% das matriculadas em cursos STEM no mundo.

Segundo os estudiosos do tema, as mulheres ainda são consideradas desprovidas das habilidades tidas como necessária para a produção do conhecimento científico. Não raro, enfrentam preconceitos pautados em rótulos que as definem como sensíveis, emocionais, sem aptidão para o cálculo ou a abstração.

No contexto do estudo da UNESCO, as investigações realizadas nos Estados Unidos avaliaram, também, o ambiente dos programas de doutorado em áreas STEM e sua contribuição para a desigualdade de gênero. Não foram identificadas evidências de que o desempenho acadêmico das estudantes ou dificuldades financeiras contribuíram para a manutenção da sub-representação das mulheres nesses cursos. O problema parece residir no fato de os cursos, compostos majoritariamente por homens, contribuírem para o estabelecimento de um ambiente hostil às mulheres, envolvendo, muitas vezes, assédio sexual, humilhação, menosprezo ou rejeição de ideias manifestadas, por exemplo, em reuniões de laboratórios, situações que, não raro, contribuem para que as estudantes se isolem do convívio social.

No Brasil, a discussão sobre a participação das mulheres nas áreas STEM também desperta a atenção de pesquisadoras que, depois de analisar dados do Censo da Educação Superior de 2010, constataram que as mulheres são maioria em 15 das 20 carreiras de graduação com maior número de recém-formados; maioria também entre os discentes nas universidades brasileiras e já compõem cerca de 50% dos docentes nas instituições públicas, mas o crescimento não está homogeneamente distribuído entre as disciplinas. O percentual de mulheres nas áreas STEM é muito pequeno e diminui desproporcionalmente à medida que se avança na carreira.

O que podemos fazer para mudar esse quadro?

É o que abordaremos na próxima matéria a ser divulgada nas páginas do SINTPq e Assipt.