Notícias | Greve de 2019 reforçou espírito da luta coletiva na Amazul

Greve de 2019 reforçou espírito da luta coletiva na Amazul

Continuando série de reportagens, SINTPq relembra grande mobilização promovida em 2019

09/05/2022

Os profissionais da Amazul (Amazônia Azul Tecnologias de Defesa) ainda aguardavam o desfecho do dissídio coletivo de 2018, referente à greve realizada em março daquele ano, quando a campanha salarial 2019 teve início com assembleias nos dias 10 e 14 de setembro. Esses encontros ocorreram em São Paulo e Iperó, reunindo centenas de trabalhadores e trabalhadoras para a discussão e definição da pauta reivindicatória. Em função da mobilização bem-sucedida realizada meses antes, o clima de engajamento era forte e um recado ficava claro para a empresa: os funcionários e funcionárias não aceitariam passivamente propostas que desrespeitassem seus direitos.

Após receber a pauta de reivindicações, que demandava reajuste conforme o IPCA + 3% de aumento real e melhorias nos benefícios, a Amazul iniciou os diálogos com o sindicato em outubro. Como de praxe, a empresa afirmou que se reuniria com a SEST (Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais) para que uma contraproposta fosse definida. Começava ali um grande gesto de desrespeito por parte da Amazul e do Governo Federal, que deixaram os trabalhadores sem resposta durante meses.

Depois de um longo período cobrando a apresentação de uma contraproposta, sindicato e trabalhadores não podiam mais esperar. Os salários de todos e todas estavam sem reajuste desde janeiro de 2017, uma vez que o resultado do dissídio de 2018 ainda não havia saído. O SINTPq então agendou assembleias para os dias 13 e 14 de março, nas quais seria votada a deflagração de greve. Percebendo que os trabalhadores e trabalhadoras não hesitariam na luta por seus direitos, Amazul e Governo Federal finalmente se mexeram.

Nova reunião entre empresa e sindicato foi marcada para 12/03, véspera da greve. Na esperança de desengajar os empregados, SEST e Amazul apresentaram a ridícula proposta de 0,8% de reajuste perante uma inflação de 3,75% (IPCA). Esse índice pífio foi sumariamente rejeitado nas assembleias realizadas nos dois dias seguintes, em São Paulo e Iperó, e a greve a partir de 21 de março foi aprovada com amplo apoio dos trabalhadores e trabalhadoras. Como feito no ano anterior, adesivos exigindo respeito aos empregados foram distribuídos e o clima de mobilização se espalhou pela empresa nos dias seguintes.

Conforme aprovado nas assembleias da primeira metade do mês, a greve teve início no dia 21/03 com os trabalhadores paralisados em frente ao CEA, em Iperó, e também no CTMSP e sede administrativa, em São Paulo. Nesse momento, a Amazul elevou sua contraproposta para 1,2% de reajuste, mas o valor ainda era muito distante da recomposição inflacionária e não contemplava os benefícios. Dessa forma, a mobilização seguiu ao longo do dia com o mesmo clima de união vivenciado em 2018 e ganhando espaço em diversos veículos de imprensa.

Os diálogos com a Amazul seguiram e, no segundo dia de greve (22 de março), os funcionários decidiram coletivamente pela suspensão da paralisação. O Estado de Greve foi mantido e as negociações tiveram continuidade com o apoio de mediações judiciais. Infelizmente, Amazul e Governo Federal insistiram com as propostas abaixo da inflação, o que causaria perda no poder aquisitivo dos salários, e a instauração de novo dissídio coletivo foi inevitável. Com isso, a decisão sobre o reajuste seguiu na Justiça do Trabalho, passando por julgamentos no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) e no TST (Tribunal Superior do Trabalho).

O dissídio de 2019 resultou no reajuste de 2,5% nos salários e no benefício para filhos com necessidades especiais. Essas condições foram propostas pelo TRT e tiveram concordância por parte da Amazul. O reajuste foi pago de forma retroativa em janeiro de 2020. Porém, o sindicato não se contentou com um índice abaixo da inflação e recorreu ao TST exigindo a diferença de 1,25%, referente ao IPCA do período (3,75%). Esse pleito não chegou a ser julgado porque tal diferença foi incluída nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho firmado no ano passado. De toda forma, ficou nítido que, sem a greve e o recurso movido pelo sindicato, tal diferença não faria parte do acordo mencionado, que englobou as três negociações anteriores (dissídio 2019, dissídio 2020 e campanha salarial 2021).

Assim como no ano anterior, a greve de 2019 resultou em ganhos salariais para todos os empregados. Esses ganhos têm reflexo até hoje, com seus impactos no FGTS, INSS, férias, 13º terceiro e nos reajustes posteriores. Por mais que as condições atualmente existentes na Amazul estejam longe do ideal, é importante refletir sobre o quão pior estariam sem a luta coletiva promovida por trabalhadores e sindicato. Se os movimentos dos últimos anos não tivessem ocorrido, muito provavelmente a Amazul teria seguido a lógica imposta à grande parte dos servidores e empregados públicos: 0% de reajuste em 2018, 2019, 2020 e 2021.